BOAS VINDAS

Este trabalho foi realizado pelos alunos do colégio JOHAS. Esperamos que gostem de nosso trabalho!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ana


E.E.B João Hassmann
Aluna: Ana Clara Schlindwein 
Série:6ª c                       
Professora: Karine de Oliveira
 
  
A Minha Lousa e a Caneta de Pedra

Na minha infância não existia televisão nem rádio, então tínhamos que inventar várias brincadeiras nas ruas do nosso bairro que eram ruas de barro e sem movimento. Nos juntavámos com algumas amiguinhas. Na época não podia brincar com meninos, eram separados_ brincávamos de roda, de casinha, mas a preferida era amarelinha.
Estudei no colégio Feliciano Pires que fica no centro da minha cidade, ia para escola de pé, era outro prédio diferente do que é hoje, fiquei lá até acabar o complementar_ assim era chamado, depois que acabávamos a quarta série fazíamos mais dois anos. A minha roupa de uniforme era saia plissada azul e camisa branca. A educação era rígida, e se não fizéssemos alguma atividade ganhávamos castigos. Lembro que nos tínhamos uma lousa_ um quadrinho de pedra que tinha um lápis também de pedra e vinha dois paninhos amarradinhos, tinha até uma moldura, ali fazíamos as continhas ou escrevíamos, na carteira tinha um potinho com água então nós molhávamos o paninho e apagávamos, só escrevíamos no caderno o que era “muito importante”, porque ele deveria durar o ano todo. Me lembro da professora do segundo ano primário, quando eu não fazia o dever ela me chamava lá em cima, onde tinha a mesa dela tinha um tipo de um palanque de madeira para ter melhor visão dos alunos, então ela cantava: “Lá em baixo toda coisa ajuda e aqui em cima toda coisa muda...” ela pedia quantas continhas eu tinha errado, pegava minha mão e dava os tapas de acordo com os erros.
Nas datas comemorativas ganhávamos uma boneca, tínhamos que brincar com ela por um tempo e depois devolver, então minha mãe tirava as roupinhas velhas, lavava e me dava de novo no natal, pois não tinha muitas opções de presentes, este seria ganho em várias datas, apenas com roupas diferentes que minha mãe fazia com muito carinho.
Quando completei dezoito anos conheci meu marido que era jogador, namoramos dois anos, somente conversando na frente dos nossos pais, lembro que ele vinha de bicicleta e as oito horas tinha que ir pois sem luz nas ruas ficaria difícil de ele voltar para casa, tinha vezes que meus pais deixavam nós darmos uma volta de bicicleta, então ele me levava no guidão, andávamos nesta rua do bairro. Hoje em dia é tão diferente! Tenho medo até de deixar minha neta sair de casa, muito movimento nas ruas e muita violência e até mesmo medo de que se envolva em más companhias, em drogas.
Construímos aqui mesmo uma casinha de madeira. Foi uma época sofrida bem distante das tecnologias e as várias máquinas que temos hoje, eu tinha que lavar a roupa no cocho_ tanque fora de casa, usávamos aqueles fornos a lenha grandes, ferros de pedra pesados, que bom que mudou muito essa realidade das mulheres!
Depois que tive o primeiro filho eu comecei a trabalhar, estava fazendo o normal que durava apenas dois anos. Comecei a dar aulas em 1954 no colégio que minha neta estuda, eram uma casa alugada, num chairel bem antigo, foi meu sogro que começou com ele depois compraram aquela sala que hoje fica a biblioteca da escola atual. Eram três turmas e duas professoras, eu era professora e diretora, trabalhava com duas turmas na mesma sala, primeiro e segundo ano. Eu dividia o quadro em duas partes, uma para cada ano, enquanto eu passava uma continha de mais para o primeiro ano somar com fósforos, ia ditando para o segundo uma frase. Assim como na minha época aqui também tinha castigo para quem não se comportava, todos tinham cadernos. O professor era visto como uma autoridade e tinha que ter muito respeito por ele. Lembro de quando chamei a mãe de um dos meus alunos que era indisciplinado, ela deu-lhe uma surra na frente dos outros alunos e falou para eu dar uns “cascudos”_ socos na cabeça dele se não mudasse. Eu castigava, mas nunca tomei outra atitude, gostava de meus alunos.
Outro fato que me marcou minha vida foi a enchente de 1984, que deixou as famílias aqui do bairro sem lar, já tinham mais casas nesta neste ano, meios de transporte como bicicleta, carro de mola, ônibus. Deu uma grande enxurrada e o rio subiu e minha casa ficou com água até a cunheira, fiquei separada de meus filhos, cada um foi para um canto... e longe de meu marido! Durou três dias e depois tinha todo aquela lama para nós limparmos. Reconstruímos tudo com muito esforço, tivemos outras enchentes como em 2008, mas nos preparamos para elas, mas igual a tragédia de 84 não houve outra...
Meu nome é Benta Helga Silva Montibeller, sou viúva, tenho 79 anos, nasci e vivi neste bairro e fui a primeira professora e diretora da escola que minha neta estuda, hoje chamado de Colégio João Hassmann, mas esta é outra história!
 
 

2 comentários:

  1. poxa que legal você foi a primeira diretora e professora da escola,a sua historia foi super interessante.

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